Confronto

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sexta-feira, outubro 21, 2005

Atento

Olhando-o encostado à porta do autocarro, dir-se-ia que ele não provinha de nenhum lado. Pior ainda, que não ia para lado nenhum. Estava com cara de dia chuvoso. Contudo, ilegível. Ele chovia em Si, apenas.
Aquele talvez fosse um momento, não um estado. E se fosse um estado, não parecia que ele o soubesse. Algures nos traços de névoa cinzenta do seu rosto, havia um horizonte de determinação. Seria verosímil vê-lo sorrir no dia seguinte.
Os corpos agitavam-se num suave balanço de viagem, embora o dele, seguro contra a porta, se mantivesse impávido. Naquele instante ele era, sem dúvida, imutável e perene.
Mas a porta abre-se. Abre os corpos ao mundo exterior. Ele afasta-se, apenas. Enquanto os outros partem, ele sente ar fresco no rosto, uma ligeira brisa que o arrepia. Uma brisa que cheira a Outono. Uma brisa perfumada com o cheiro de uma liberdade que desconhece há muito (tê-la-à conhecido um dia, há muito tempo atrás?).
Mas a porta fecha-se. Sempre fecha. Enquanto ele permanece e os outros não. Sabe que não está perto de chegar, a viagem parece longa. No entanto, olha sempre para o atalho mais próximo, com a esperança de um pequeno devio.

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