Confronto

Duas vozes - duas visoes...
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terça-feira, janeiro 27, 2004

O espelho (II)
Óculos. Lágrimas. Chamas. Sobrevoando edifícios. Onde ninguém é Alguém...

Acorda. Sonhos perturbadores. Regressa a si. Olhando em redor vê folhas soltas, escritas com letra tremida. À luz da penumbra que vem do céu nublado, vê uma folha branca com um borrão de tinta. Por baixo podia ler as suas palavras ainda gravadas a sangue dentro de si. Erguendo-se despenteado, olha para a estante onde não vê livro nenhum. Na secretária amontoam-se folhas rasgadas e vê que as cinzas junto à lareira deixam marcas no chão. Relembra então o seu Estado, a sua sombra erguida. Vê-se rodeado de ar. E respira. Respira. Respira.
Senta-se. Um forte cheiro a incenso atordoa-lhe os sentidos. Reconfortado por um pequeno cobertor, sente-se feliz. Ouve então música tornando perfeita a harmonia. Ali, Alguém grita Vida dentro de si.

Acorda. Bons sonhos. Óculos partidos no sono. Lágrimas secas agora, voando ainda por cima da Vida, vendo chamas celestiais em seu redor. E recorda então que o Alguém que sonhou não é, afinal, ninguém.
JV