Confronto

Duas vozes - duas visoes...
Diversidade de opinioes com direito de resposta...

segunda-feira, janeiro 26, 2004

Ao direito que temos de escrever e ao dever que teríamos de não o fazer...
Saber que bem lá no fundo tudo o que fazemos e tudo o que escrevemos não consegue expressar o que verdadeiramente Somos, deveria ser um objectivo prioritário para a nossa própria compreensão. É na falta dessa consciência que muitas vezes somos acometidos pela imprudência da palavra escrita. As palavras expressam-se naqueles que as dominam, não naqueles que são por elas dominados. Daí advém a dificuldade da transcrição do nosso mundo para o papel. Dois olhos são bem mais reais que duas letras. E com eles temos o poder de transmitir mais num só momento do que em anos de pontos finais, parágrafos e travessões.
Escrever é, agora, a irresponsabilidade de deixar “vazar sentimento” descontroladamente, sem rédeas ou arreios. E tudo o que registado fica é um crime na nossa alma, a vaidade das emoções, o pavonear de alegrias e tristezas, o queixar incessantemente, o reclamar mais e mais quando o nosso direito de o fazer é cada vez mais diminuto.
Escrever é usar do egoísmo que nos é intrínseco, sem qualquer cuidado ou piedade pelos outros, pelo seu Estado, pelo seu Ser. Na escrita, o que revelamos é a mais negra face de nós mesmos, o que de pobre existe no nosso espírito. Mostramos aí toda a nossa estranheza neste mundo... E estranhamente tudo isto explicita-se no plano místico do texto escrito.
Aí não somos nós mesmos. Ou, talvez, sejamos mais nós do que aquilo que podemos pensar...
Não escrevo. Minto, apenas.
JV