Confronto

Duas vozes - duas visoes...
Diversidade de opinioes com direito de resposta...

terça-feira, julho 12, 2005

Um lugar no autocarro

O autocarro não vai cheio. Está naquele meio termo em que restam poucos lugares e há quem não se queira sentar e prefira ocupar a parte central, mais larga, de pé. Por uma questão de ar, de espaço, de fuga a um sentimento, ainda que reduzido, de claustrofobia. Alguém de idade avançada entra. É notado à distância. No seu andar trôpego e sorriso afável há a carência de uma palavra, de um gesto. A nobreza da pessoa que se distinguir será por todos admirada. Por todos os que sentem a humildade e a gentileza como lugares de visita merecida (e devida, talvez...). Mas os actos de altruísmo demoram a ser assimilados. É necessário afirmar convictamente a nível interno. Demora a transparecer.

Subitamente alguém resolve agir por impulso, por coração. Não pensa, não afirma, não transmite, não assimila. Apenas transparece. E assim quase humilha as boas almas que foram por si ultrapassadas. Elas sentem-se de honra quebrada, de estatuto rebaixado. Quase indignas da sua nobreza. Tão indignas que nem seguem até ao fim da viagem. O ar fica pesado em seu redor.

Como se dissesse: “Até na honra te ultrapassam.”