O meu bisavô
Sempre me considerei privilegiado por ter tido a possibilidade de conhecer 4 dos meus bisavós.
Hoje estive com o único que está ainda entre nós.
Vicente Torres: a caminho dos 98 anos, natural de Matosinhos.
O meu bisavô passou pela monarquia, por três repúblicas; por duas guerras mundias; por Humberto Delgado, Álvaro Cunhal e Sá Caneiro; por Amália e Vasco Santana; pelas colónias, pela descolonização; pela censura e pelas nacionalizações.
Mas, mais do que isso, o meu bisavô foi um alfaiate de sucesso, vestiu muita gente que de longe o procurava; ainda hoje é conhecido em qualquer rua da terra que adoptou (Pampilhosa); ganhou muito dinheiro, e perdeu-o todo ao emprestar a quem lho pedia, e nunca o exigindo de volta.
O meu bisavô é aquele homem que comia uma malagueta por dia; que lavava a cara todos os dias com a água do orvalho recolhida numa taça durante a noite; que tem a cara quase sem rugas; que tem as orelhas mais compridas que conheço; que tem uns olhos azuis memoráveis; que aos 90 anos mantinha os dentes quase perfeitos; que me ensinou o significado da palavra etecetera.
O meu bisavô não me reconhece, não se lembra do que almoçou, está condenado a uma rotina que nos parece penosa, sem cessar. E, há quem diga "É uma tristeza"! Mas, o meu bisavô sabe qual é a sua terra Natal, sabe qual foi a sua profissão, movimenta-se por si, não sofre! E, mais do que tudo, sorri! Sempre que o visito encontro-o com a mesma boa disposição de sempre, sorri nem que só diga "Sim, senhora!". O meu bisavô acena-me adeus quando me despeço, até deixar de me ver. Dá-me prazer estar com o meu bisavô, e fico contente por poder fazê-lo. Por isso, eu só posso dizer "É uma felicidade!!!".
Hoje estive com o único que está ainda entre nós.
Vicente Torres: a caminho dos 98 anos, natural de Matosinhos.
O meu bisavô passou pela monarquia, por três repúblicas; por duas guerras mundias; por Humberto Delgado, Álvaro Cunhal e Sá Caneiro; por Amália e Vasco Santana; pelas colónias, pela descolonização; pela censura e pelas nacionalizações.
Mas, mais do que isso, o meu bisavô foi um alfaiate de sucesso, vestiu muita gente que de longe o procurava; ainda hoje é conhecido em qualquer rua da terra que adoptou (Pampilhosa); ganhou muito dinheiro, e perdeu-o todo ao emprestar a quem lho pedia, e nunca o exigindo de volta.
O meu bisavô é aquele homem que comia uma malagueta por dia; que lavava a cara todos os dias com a água do orvalho recolhida numa taça durante a noite; que tem a cara quase sem rugas; que tem as orelhas mais compridas que conheço; que tem uns olhos azuis memoráveis; que aos 90 anos mantinha os dentes quase perfeitos; que me ensinou o significado da palavra etecetera.
O meu bisavô não me reconhece, não se lembra do que almoçou, está condenado a uma rotina que nos parece penosa, sem cessar. E, há quem diga "É uma tristeza"! Mas, o meu bisavô sabe qual é a sua terra Natal, sabe qual foi a sua profissão, movimenta-se por si, não sofre! E, mais do que tudo, sorri! Sempre que o visito encontro-o com a mesma boa disposição de sempre, sorri nem que só diga "Sim, senhora!". O meu bisavô acena-me adeus quando me despeço, até deixar de me ver. Dá-me prazer estar com o meu bisavô, e fico contente por poder fazê-lo. Por isso, eu só posso dizer "É uma felicidade!!!".
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